quinta-feira, 30 de maio de 2013

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O Amor de Filha, o Sal e a Água


Um rei tinha três filhas; perguntou a cada uma delas, por sua vez, qual era a mais sua amiga? A mais velha respondeu:
- Quero mais a meu pai do que à luz do Sol.
Respondeu a do meio:
- Gosto mais do meu pai do que de mim mesmo.
A mais moça respondeu:
- Quero-lhe tanto como a comida quer o sal.
O rei entendeu por isto que a filha mais nova não o amava tanto como às outras e pô-la fora do palácio. Ela foi, muito triste, por esse mundo e chegou ao palácio de outro rei, aí se ofereceu para ser cozinheira. Um dia veio à mesa um pastel muito bem feito, e o rei ao parti-lo achou dentro um anel muito pequeno e de grande preço. Perguntou a todas as damas da corte de quem seria aquele anel. Todas quiseram ver se o anel lhes servia; foi passando até que foi chamada a cozinheira e só a ela é que o anel servia.
O príncipe viu isto e ficou logo apaixonado por ela, pensando que era de família de nobreza.
Começou então a espreitá-la, porque ela só cozinhava às escondidas e viu-a vestida com trajos de princesa. Foi chamar o rei seu pai e ambos viram o caso. O rei deu licença ao filho para casar com ela, mas a menina tirou por condição que queria cozinhar pela sua mão o jantar do dia da boda. Para as festas do noivado convidou-se o rei que tinha as três filhas e que pusera fora de casa a mais nova.
A princesa cozinhou o jantar, mas nos manjares que haviam de ser postos ao rei seu pai não botou sal de propósito. Todos comiam com vontade, mas só o rei convidado é que nada comia. Por fim perguntou-lhe o dono da casa, porque é que o rei não comia. Respondeu ele, que não sabia que assistia ao casamento da filha:
- É porque a comida não tem sal.

O pai do noivo fingiu-se raivoso e mandou que a cozinheira viesse ali dizer porque é que não tinha botado sal na comida. Veio então a menina vestida de princesa, mas assim que o pai a viu, conheceu-a logo e confessou alia sua culpa por não ter percebido quanto era amado por sua filha, que lhe tinha dito que lhe queria tanto como a comida quer o sal e que depois de sofrer tanto nunca se queixara da injustiça de seu pai.


Teófilo Braga, in: Histórias Tradicionais, 1988

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